segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Muito além da pombogirisse

De primeira tenho de dizer: Parabéns para os caras. O filme foi bem feito, respeitou cronologia, foi capaz de alinhar a estória, sem queima de arquivos. O elenco - impecável. O que é Wagner Moura? De vestido de mulher nas noites de sexta para o homem que todos queriam muito que existisse? e Sandro Rocha, representando o vilão que todos sabem que existe?
Acontece que, graças a capacidade intelectual de todos, cada um viu um filme diferente. Um coronel que só descansa depois que mata a cobra e mostra o pau; um policial honesto, que entende o significado de missão dada é missão cumprida e leva um tiro nas costas por causa disso; a galera vibrando, se colocando no lugar dos personagens, feito filme americano, querendo estar lá, no lugar do mocinho - toma esse, e mais esse. Tanto as emboscadas quanto a blitz exclusiva, momentos em que o pau quebra. Que pressão. Mas, duvido muito que quem já tenha sido vítima de quaisquer das causas trazidas pelo Rocha, tenha visto tamanha empolgação.  Aos menos sensíveis, resta a fala -"ah, frescura pura", "deixa de palhaçada"; e por aí vai, mas, a grande verdade, foi que esse longa bateu nos meus olhos com uma força diferente. A sensação de que você está sozinho veio de mãos dadas com a angústia. Ninguém pode te defender. Os vilões do filme existem na vida real, mas o Coronel... Esse, infelizmente, não. A bandidagem correndo, a crueldade na queima de arquivos, a opressão pela imposição,a sensação de não ter pra onde correr, pois não há ninguém que te defenda entristeceu, envergonhou. Toda essa fama, esse sucesso de bilheteria se dá por se tratar de um filme que inverte a realidade/ ficção. O velho papinho " a arte imita a vida, a vida imita a arte" não passa de um bordão solto. E como diz o coronel Fábio - "o que é isso? tá de pombogirisse?" Faço das palavras dele as minhas. E a resposta é essa: duvido que alguém de nós, que já assistimos, estivesse. Todos sabem das vastas possibilidades de existência de todo o mal retratado lá, estar do outro lado da rua, da calçada, da linha. E o que fez a emoção me corroer, não foi o fato do coronel mocinho investir contra os caras e sair no lucro, mas a traição ao cara justo, a opressão aos pobres da comunidade, inocente virando vítima, a eliminação de testemunhas, a facilidade com que seu nome vira lama, a proteção vinda do poder, a inversão de valores, onde, se você não é bandido e não tem as costas quentes, já era, e a maior certeza do mundo: O Coronel Nascimento é fantástico, competente, responsável, profissional, leal a sua farda e pátria, sério, respeitoso, digno, forte, convicto, homem de palavra, de sentimentos, pai de família, protetor, sub secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Mas, o Tenente Coronel Roberto Nascimento não existe. Sinto muito.

4 comentários:

゚✿ Viviane Nunes ✿゚ disse...

Os personagens existem: Nascimento é o Rodrigo Pimentel (comentarista de segurança pública do RJTV). Mas concordo que em Ideal nãos eja o próprio. Mas para além de todo o contexto me sinto feliz e satisfeita enquanto eleitora, pq Fraga, é nada mais nada menso que Marcelo Freixo, meu deputado federal que me orgulho em ter votado!!! Além disso ele já iniciou as discussões na Alerj sobre as UPP's que para mim, abrem discussão para um tropa 3!!!
bjos

Van Kosta - Butterfly Back disse...

Vivi!!!Obrigada por comentar! Quanta honra!!
Oxalá que a coragem desses personagens inspire novos homens! Bjbjbjbjbj!!!

Unknown disse...

Simplesmente um dos meus top 5 facilmente. E o filme é exatamente o que você disse: traz uma sensação de absurda de impotência e de insegurança. É um tapa na cara de muita gente "boa" que tem o poder hoje em dia aqui no estado do Rio de Janeiro.

Vivian Kosta disse...

A existência ou não do herói não é de fato o núcleo da discussão, mas como foi exposto no texto, a problemática que acusa e disvirtua o homem sério e comprometido, é o fato de ter representantes da banda podre no poder, é o fato da vitimização dos inocentes, e estes inocentes devem ser entendidos como a comunidade oprimida e amedrontada, o policial sério que põe a vida em risco em prol da nação,e a população de baixa renda sem oportunidade, sem esperança, ávida pela vida e que tem sua felicidade sequestrada. A mãe pobre que se vê dividida entre trabalhar e dar comida para os filhos ou ficar em casa para educá-los e protege-los do açoite e da ameaça do tráfico.
País e sociedade de extremos. Aqueles que estão no poder querem mante-lo a qualquer custo, ainda que custe vidas, dignidades, não importa, na verdade acreditam que nós o povo da base da pirâmide social sejamos moedas de troca para a manutenção do poder, por isso, é importante manter a fome, a miséria e a educação deficiente, pois caso contrário, quem estará disposto a se vender por tão pouco. É a realidade é muito triste.
Sigo e aguardo o TROPA 3!!!!!!!