quinta-feira, 22 de julho de 2010

Resposta ao post: Juíza pública só casa heteros

Quem me conhece sabe da minha admiração por ciências sociais. Muito embora esteja envolvida com linguística e psicologia, sou fascinada por antropologia e sociologia. Isso acontece por conta da noção de que, tudo que vivemos, nessa freneticidade  do século XXI, está diretamente ligado, dentre outras ciências, a esses dois fascínios.
Lançando mão de uma amostra, trago orgulhosa e respeitosamente, o post de uma das pessoas que mais admiro e respeito: Milton Cunha. Milton tem um blog, o BURACO DA LACRAIA, onde ele perpassa por diversos tópicos atualíssimos. Um deles me chamou a atenção e, como quase sempre, comentei. Acontece que esse comentário tomou uma extensão considerável e o assunto também é bastante polêmico - do jeito que aprecio.O post é o Juíza pública só casa heteros. Meu comentário foi o seguinte: " Bom dia, Milton!
Sabe o que é realmente intrigante: matar criança, pode, deixá-las à míngua em abrigos que, por mais organizados que sejam, não são seus lares e a equipe técnica não é uma família, pode, maltratar idosos, pode, desrespeitar a todos nós enquanto em campanha política, pode. A impressão que fica é que as autoridades concordam com tudo isso, uma vez que as atitudes tomadas por elas em frente as mazelas são centímetras. Isso é de fazer a cabeça doer. Um ser que leva o título de doutor, magistrado, mas, desconhece antropologia, evolução humana. Sua vontade religiosa, que é pessoal, se sobrepõe ao poder da legislação, que é social. É muito simples: não está a fim de cumprir o seu papel, sai da frente! Vire pastor, monge, o que for e deixe as leis dos homens para serem dirigidas por eles pois, dessa maneira, deixa claro que Deus é Deus, ser humano é ser humano. Do contrário, o que de fato é assumido com a postura da magistrada, é que somos filhos de um Deus vingativo, que concorda com o estupro, moléstia de menores, maus tratos aos deficientes e idosos, desrespeito aos homens de bem, menos a união pelo amor, pelo respeito, pela admiração, pelo bem. É para acreditar em que, afinal? Então, sinto-me mais confortável diante de um facínora quando sei que seu estupro foi contra uma mulher, e não homem, é isso? Valores pessoais tem a ver com sociedade quando esses representam o bem estar de TODOS. Meu bem estar independe se meu vizinho ou vizinha escolheu fazer amor com um homem ou uma mulher, mas vai depender muito se ele for um sociopata, um psicopata, um traficante, um matador. Ah, mas será que me sentirei melhor porque sei que, no fim das contas, ele dorme com mulher? Isso o faz menos perigoso?" 


É muito difícil, para algumas pessoas, discutir propriedades humanas fora da esfera religiosa. A religião  existe, deve ser respeitada e considerada, no entanto, ainda permanece na esfera pessoal. Do contrário, a religião de um poderá ser imposta a outros. A liberdade não existiria mais. Por conseguinte, o que deve ser considerado pelos agentes da sociedade, como professores, terapeutas, médicos,  advogados,  juízes, e demais profissionais, é o respeito ao próximo e o cumprimento da lei civil e ética. Se um juiz ou qualquer outro profissional dessa ordem de importância, afirma que não agirá de acordo com a lei  porque essa vem de encontro a seus princípios pessoais, é o momento dele rever sua profissão. Uma autoridade responsável por validar uma união civil, negar-se assim fazê-la por motivo do casal ser homoafetivo, dá direito a um médico , pertencente a vertente evangélica  "Testemunha de Jeová" a não realização de transfusão de sangue em um paciente. E se ambos decidirem que não casam pessoas de outras etnias,  tão pouco os socorrem, em detrimento a pregação  da supremacia branca?
A questão é que muitos já estão inclusive escolhendo qual lado tomar partido, como se estivéssemos tratando de uma partida de futebol, deixando para trás a consciência de que o discutido são os direitos civis e, o motivo de você excluir um, pode ser motivo da exclusão de todos. Imaginemos se o direito a escolha de religião fosse cassado? E o que dizer do direito ao voto, a liberdade de expressão? O ser humano não pode ser tolhido de seu direito de viver a sua vida, desde que esse direito não sobreponha o do outro, atentando contra seu bem estar. Sendo assim, desde quando um casal homoafetivo casado sobrepõe o meu direito em alguma instância? Para aquele que pensou em responder: "Ah, mas daqui há pouco, eles estarão se agarrando e se beijando em público, para todo mundo ver." A resposta: Não acho nenhuma graça nesse ato cometido por ninguém. Carinho, cuidado e respeito é uma coisa. Exposição ao ridículo, é outra. É desconfortável estar sentado dentro de um ônibus e um casal estar na sua frente, tentando fazer o teste do X MEN que passa por dentro do outro. É uma atitude que constrange a qualquer um, qualquer que seja a natureza dos componentes da dupla. Portanto, argumento fraco. O direito a viver a vida na companhia de quem lhe apetece é muito maior.

2 comentários:

Vivian Kosta disse...

É preciso se ver e sentir como o próximo.Esse é o verdadeiro exercício da fé.

Silvana Marmo disse...

Olá Vivian,
Aceitar as diferenças é a coisa mais dificil para o ser humano, a verdade de cada um é imutavel, lamentavel.
Meu carinho