segunda-feira, 28 de junho de 2010

O amor no fundo do rio

Eu sei que ele era um pescador. Depois, por ter feito muitos amigos, acabou sendo convidado para trabalhar como barqueiro. No começo ficou fazendo viagens curtas, do tipo do Center Point para ilhota de frente, lidando com pouco dinheiro. Depois que despertou a confiança dos demais barqueiros trabalhando direitinho, foi indicado pelo Pedro, barqueiro de respeito, para trafegar por todas as oito ilhas da Barra.
Tudo isso já tinha mais de um ano, quando ele deu cabo da primeira moça, pela primeira vez. Era noitinha e ela entrou no barco dele sozinha. Bonita, mas não tinha cara de madame, não. Estava mais para doméstica deixando a casa da patroa. Ela veio da mais distante, então, tiveram tempo de sobra para bater um papo e ele ganhar a confiança dela. Quando isso aconteceu, num piscar de olhos, ele enfiou a peixeira em suas costas. Tinha que ser sempre de costas, para perfurar o pulmão e facilitasse o afogamento. Enquanto ela se afogava em seus próprios fluidos, ele ficava olhando, reparando nela toda. Sentiu-se bem. Achou que teria medo, achou que teria nojo, achou que ficaria assustado. Tudo conversa fiada. Não sentiu nada, além de curiosidade. A impressão que teve era que estava diante de uma máquina registradora, que nem a da peixaria onde trabalhou, e ela  estivesse com defeito. Hora mostrando os números, hora não. Pifando aos poucos, igual a televisão velha. Quando ela deu o último suspiro, ele, certificando-se de que não havia ninguém olhando, deu a volta e seguiu pro lado mais escuro do Marapendi. Já bem distante, segurou-a pelas pernas e lançou com tudo no rio. Em seguida, sua bolsa e sacolas. Esperou tudo realmente afundar. Quando já não se conseguia ver mais nada, deu meia volta com o barco e partiu. Voltou para sua rota normal. Estava tão eufórico, que poderia trabalhar sem comer e dormir por dois dias, tamanha a emoção que invadira seu peito. Sensação boa. Mas, o segredo para  não ter problemas está em saber esperar e não ficar viciado. Nada de repetir o feito por um bom tempo. Tem de deixar a água ficar mansinha novamente.

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