sábado, 27 de março de 2010

Muito cuidado: Você pode ter sido atacado por um MORTO VIVO!

          Você sai de casa decidido de que colocará tudo em ordem de uma vez por todas hoje. Segue, então, para aquela repartição pública responsável pela orientação que você tanto precisa para ter sucesso no seu objetivo. Chegando lá, você percebe que eles não são tão organizados assim e, espera um bocado pela sua vez. Diante do ser que detém a "solução do mundo" para seus problemas, você se prepara com a melhor da educação recebida na vida, sorriso gentil e face de quem não tem a menor idéia de nada, de quem precisa de ajuda, de quem é novato no assunto. Ao articular o primeiro cumprimento, o "ser" já te olha como se quisesse dizer: - " Ó, não vem não, hein?! Tô te fazendo um favor em te atender, portanto, se encher meu saco, não te digo nada!". Mas, você não se deixa intimidar e lança a pergunta, tentando se cercar de todas as informações. O indivíduo te responde entre os dentes, sem se quer te olhar nos olhos,  e  você logo se imagina mandando o próprio ir plantar batatas lavadas. Contudo, colado no vidro que divide a necessidade da vida real e a má vontade em serví-lo, jaz um comunicado, daqueles que tem o número do artigo, que te proibe de dizer o que passou pela sua cabecinha, sob pena de "passar vergonha". Então, você sorri amarelamente, e parte para a reunião dos fatos, organização dos documentos, gastos extras com xerox, cartório em geral, ofícios. Tudo sob controle. Você dá conta de reunir tudo. Volta à repartição.
          Para sua surpresa, já não é mais o tal indivíduo, e sim uma mocinha que parece ser mais simpática. Todo serelepe, você aguarda mais um bom bocado, sem o doce, até que a moçoila lhe atende e diz que está tudo errado! Que, para os fins que precisas, nada daqueles documentos resolvem. " Mas como?" - você, já desacompanhado de sua paciência, lança a pergunta, mas, de olho no tal artigo preso no vidro, tentando sacar se a lei te permite perguntar. A moçoila faz uma cara de Chaves - "Nossa, que burro ele", e te explica, como um professor de matemática que, no fundo no fundo, sabe à beça, mas é pesquisador, engenheiro, o que for, menos conhecedor da didática do aprendizado.
         Como ela fala rápido demais, você vai pulando com os olhos, para dar conta de tantos detalhes. Fim do cálculo, e você parte para a odisséia. Mais gastos, mais filas, e, dias depois, retornas à repartição. Seu humor e paciência ficaram namorando embaixo de sua cama, logo, você teve de seguir sem eles. Fila, bom bocado, e quem lhe atende é uma senhorinha redonda de poucos cabelos, muitas bijus, inclusive, muitos anéis, que deixaram seus dedos esticados, quase sem possibilidade de prender a caneta. Você se prepara, cumprimenta, e entrega tudo. A senhorinha recebe e marca data para seu retorno. Você nem acredita, mas dá a missão como cumprida.
          Dia do retorno. Não podemos esquecer que, tal documento abrirá as portas para outra situação em sua vida, logo, realmente deve estar correto, por isso demora tanto para ficar pronto. Quem te atende é o indivíduo, mas você nem liga porque seu objetivo é pegar o documento. Porém, nesse ínterim, você visualiza a possibilidade de devolver a antipatia que ele lhe atendera antes, ainda mais porque a lei não diz nada contra os antipáticos, então, seria essa a sua vingança! Você não voltará lá mesmo, não é? Com esse raciocínio, você se aproxima do balcão, lança o protocolo ao indivíduo, sem olhar pra ele. Este, por sua vez, parece que sente a SUA má vontade e parte para buscar o que você deseja. Retornando, ele lhe entrega, ávido por uma oportunidade de lhe tratar mal, mas você resiste, dando as costas, com seu importante documento a mão. Acabou.
          Dia seguinte. Rumo ao destino final da jornada, munido do seu documento que dará o ponta pé inicial, você segue confiante. Já em outra repartição, diante de outro "ser absoluto", você disponibiliza todos os documentos. Tudo corre perfeitamente até que: - Senhor, seu endereço não confere, no documento, com o comprovante de residência. Não podemos autuar. O senhor terá de fazer tudo novamente. - A voz do rapaz diante de você parece vidro que acabara de quebrar e vem cortando tudo que está a sua frente. - Como assim?! - lá vai você com sua pergunta sem ofender - Senhor, no orgão onde o senhor foi, eles não viram isso não? Vai ter de fazer tudo novamente, os dados teem de bater! Próximo! - e assim, o rapaz encerra o atendimento.
          Que ironia, hein?! E você achando que não voltaria naquela repartição... Você foi ou não vítima de mortos vivos, aqueles que são pagos e orientados para fazer o seu trabalho corretamente, mas, não fazem? E, por que será que não fazem?
     

Nenhum comentário: