terça-feira, 2 de março de 2010

Louraça expulsa do Cortiço


Eu sabia que ia dar em rolo convidar alguém pra passar o carnaval com a gente, num espaço tão pequeno, com o Mendonça dando uma de Rei Momo, fazendo gracinha na rua, dando elo de latinha de cerveja pra filha dos outros vestir; componente de ala da comunidade saindo na mão pra ver quem aparece mais e, senhoras de família, com bebês recém chegados, teimando em atender no balcão da barraca, pro freguês achar que ainda está com o corpinho, melhor, corpão, no auge da forma, e não perder a venda, né, mesmo que fiado. Eu sabia... Sem falar na mistura de cores no pátio, ora vermelho, ora azul, salpicando um amarelinho, melhor, amarelão. A gringaiada ia se perder. Tudo isso regado a um odor de xixi velho e curtido, porque, já que não se podia mijar na rua, o povo mijava protegido - pelos muros, pro lado de dentro, tudo na maior segurança do pátio do cortiço. Mas o pior estava por vir. Bem que eu perguntei pro Rogério, quando ele veio com a camisetinha do bloco amassada, jogada no ombro- souvenir que ele conseguiu saindo no tapa lá na barraca, - quem ia sair na frente, puxando o pessoal, já que dona Jacinta, a presidenta do grupo de apoio à mulherada de respeito da comunidade, tinha avisado que não ia deixar mulher dali participar. E o engraçado, é que a confusão foi causada porque, nos últimos momentos, resolveram mudar o nome do cargo de destaque do bloco para "Gata Manguaça".
Dona Jacinta ficou dizendo, junto com a Marilene do 8, que tem telhado de vidro, mas taca pedra no dos outros, que a mulher que saísse desfilando, na frente do bloco, com o tal "biquininho preto", daria a entender que é facinha, facinha. Mas, também não era à toa que ela chegara a essa conclusão: Vamos à ficha técnica:
Nome do bloco: Você pinta como eu pinto!
Enredo: Nabunada, numvadinha - a saga da desbravação manzarolesca
Componentes: 24 - o suficiente pra dar rolo
Com esse ficheiro, como diz dona Odete, ninguém merece. Então, o jeito foi chamar alguém de fora, que não soubesse muito no que estivesse se metendo, pra segurar essa pemba. E foi o que aconteceu.
Eis que Rogério, gostando de aparecer, se ofereceu pra "capturar", só de mentirinha, uma gringa, cliente dele, pra desfilar. Geral falava - Como, Rogério?! Vão dá falta da mulher, cara?!, mas ele retrucava, com experiência - Tranquilidade, galera! Essa gringa é meio "perdidinha" das idéias. Ela tá vindo pro desfile, lá no Sambódromo, mas ela não sabe pra que lado fica mesmo. Depois eu devolvo ela. - Mas, como vai fazer pra vestir a gringa - perguntou, aflito o Amauri, carnavalesco, - Ah, isso é mole. Eles tem tudo que vestir a roupa lá, do camarote. É só a fantasia já estar no carro, daí eu digo pra ela que tem que usar, senão não vai subir ninguém, e ela veste! - respondeu Rogério, no auge da sagacidade. E assim foi.
Só sei que a gringa chegou, tocadinha de cachaça, já vestida com o biquininho, e, antes de desfilar, precisou ir ao banheiro, mas ninguém queria deixar a mulher entrar, daí a Vani, moça muito dada que mora sozinha no segundo andar, fez a caridade, mas, antes de descer, a gringa se dependurou na sacada, de biquininho e rabicó pro alto, movimentos "lambisgoiescos", fazendo o povo lembrar de um casal de gringos, amigos da Vani, que decidiram "namorar pelado", na varandinha há um tempo atrás! Foi um horror na época. Seu Plínio quase passou dessa pra melhor, coitadinho. Dona Jacinta, já veio cheia de autoridade, querendo empurrar a gringa escada à baixo, - Leva essa lambisgóia loura daqui!- gritava, ensandecida. A turma do deixa disso de plantão, tentaram conter dona Jacinta e a macharada que se opunha ou processo, a final, a gringa estava dando palinha de tudo que se podia imaginar: cabeça, ombro, joelho e pé, melhor, do que estava entre o ombro e joelho. Resultado: expulsaram a louraça do cortiço!
Mas, o bloco, enfim, foi posto na rua. Puseram uma das "leguminosas", como as filhas de dona Marlene são chamadas, pra honrar a "Gata Manguaça". E a gringa? A gringa desfilou, não entendeu nada do que dizia a letra do samba - e nem vou dizer porque não dá pra repetir, depois o Rogério devolveu ela, jogando só um vestidinho por cima, pra festa onde ela tinha de estar. Só sei que ela já tava tão doida que, uns dias depois, vi uma foto no jornal, dela "de quatro", no meio do salão... Acho que o Jorge, marido da Marlene, teve alguma coisa a ver com isso...

Um comentário:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Meus parabens pelo blog. Gostei mutcho...foi o Jorge, com certeza.Quando Jorge ou Marcos são os pesonagens, é pracabá; Tenho sobrinhos com esses nomes e só...pelamordeDeus!