quinta-feira, 18 de março de 2010

Foi mesmo adorável?

               Não sei se todos sabem mas, por ter sido  uma peça fantástica, My Fair Lady tornou-se filme. Fácil colocar-se na sinopse consultando a  wikipedia. Até então, tudo bem. Musical, estrutura, tudo que se espera de bom, trazendo um enredo palpitante.
               Esta peça basea-se em um escultor da mitologia grega, Pigmaleão.  Nossa, maravilhoso, se não estivermos avisados, mas a verdade é que, a idéia "Pigmaleão" de ser vai muito além.
               Confesso que muito estranhei um professor de fonética, portanto um catedrático, ser deselegante com uma mulher. É assim que o personagem, professor Higgins, se coloca todo o tempo a Eliza. Palavras como "traste", "lixo", fazem parte de seu reprtório o tempo inteiro, dirigindo-se direta ou indiretamente a ela. Tudo embebido a um tom de comédia, mas extremamente ofensivo aos ouvidos mais treinados. Passei o filme todo me perguntando como era isso. Depois, ao pesquisar a respeito, entendi que, como Pigmaleão se colocava assim diante das mulheres, por não acreditar que houvesse, no lugar onde vivia, uma mulher que merecesse seu sentimento, seu respeito, professor Higgins seria, então, o representante do escultor. Mas este, por ter se apaixonado por uma  escultura que criara, o sinônimo da mulher perfeita, ideal, contou com a piedade de Afrodite, para ter sua obra transformada em vida e com ela, ter um filho. Professor Higgins não teria a mesma sorte, logo, teria de contar com ele próprio, se quisesse torná-la um pouco digna de qualquer maneira. Quando isso acontece, em meios as palavras de baixo autoestima, e falta de credibilidade por parte de todos que rodeavam a situação, a moça consegue ser um sucesso junto à realeza e o professor, triunfa.
               Como o mestre desmerece a capacidade de raciocínio feminino, ao ser congratulado por todos de casa - empregados, o comparsa coronel Pickering, esquece que nada teria dado certo, senão fosse a participação direta da moça. Esta é outra parte muito importante do filme, pois, após ser totalmente negligenciada por todos, Eliza surta e decide sair da vida do professor, sentindo-se sem identidade e sem sucesso, o que mostra que, o que queremos para o outro, pode ser completamente diferente do que ele queira pra si mesmo.
               O final é ainda mais intrigante: ele busca por ela e vem encontrá-la na casa de sua mãe, onde tem uma discursão e fica ultrajado quando Eliza ameaça viver do que ele vive: ensinar fonética. Imagine se uma mulher seria capaz, muito menos ela. Nossa, vai de encontro a tudo que educadores, professores, ou melhor, "participadores" acreditam, em relação ao desenvolvimento do outro. Canturia pra lá, canturia pra cá, e, acreditando no fundo que não teria condições de viver sem ele, e até mesmo envolvida por um sentimento, Eliza decide voltar, surpreendendo o professor em seu escritório, ouvindo o que gravou no primeiro encontro deles. Ao desligar o gramofone, completando uma frase dita por ela mesma na gravação, Eliza chega, enquanto que o professor, ao reconhecê-la, disfarça, perguntando onde pusera suas chinelas. E é assim que o filme termina.
               Cá entre nós, teria feito sucesso ainda maior, se fosse até um ponto onde deixasse claro que o professor estivesse apaixonado, arrependido de seus pensamentos, e que sua postura não passasse de uma "proteção" contra o sentimento amor. Ainda mais se lembrarmos que, a peça data de 1956, posterior ao começo da luta, pelas mulheres, pela igualdade dos direitos e, sobretudo, após a morte de mais de 110 funcionárias em um incêndio de uma fábrica, acidente este, de acordo com muitos, provocado.

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