terça-feira, 12 de abril de 2011

A avalanche

Ninguém espera a morte, mas todos sabem que ela vem. O problema não é morrer mas quando e como se morre. Para os que vão faz bem ao coração acreditar em dias melhores, recompensas, descanso e glória. Aos que ficam, a saudade, o desalento, o buraco, a falta.
Relutei pois não queria publicar nada a cerca da atitude desse homem. Pelo que parece, no fundo, ele queria tornar-se imortal e conseguiu. Não ouvimos falar do que as vítimas gostavam, como se comportavam, mas ouvimos falar de tudo que pôde ser descoberto até agora a respeito dele. É lastimável, lamentável. Moro a cerca de um quilômetro da escola. No fatídico dia 07, acordei com um amigo ao telefone preocupado comigo. Era dia da minha folga, estava em casa, dormindo. Até conseguir entender do que ele falava, levei uns minutos. Após tranquilizá-lo, liguei a televisão e o pior, o caos, já havia acontecido. Nada podia ser feito e não fazia mais diferença. A partir daí, o dia passou a ser um rabisco. Só os helicópteros cortavam a barreira do som e foi como se estivéssemos na calçada do local. Daí entendi a agitação que já me incomodava e eu insistia em ficar na cama. Que sensação horrível. Sexta, como em milhares de outras escolas, as homenagens foram prestadas através do Hino Nacional. O pior de tudo foi "mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme quem te adora a própria morte, Terra dourada!", na voz de todas as crianças no pátio. Nossa... só pensei em não desabar para que eles pudessem ter esperança e certeza de que tudo houvera passado, não podendo mais nos atingir.
Não perdi parentes, não conheço ninguém de lá mas, além de ser um ser humano que se sensibiliza com a dor do outro, tenho família, sobrinhos, sou professora. Inevitável a lembrança dos meus alunos vir à tona. Dolorido. O que vamos fazer? O que vai se dizer? Bem, eu não tenho a resposta, mas acredito que esse tenha sido um fato isolado, como o caso de Mateus Meira, mas não com a mesma sorte: menos mortos e o delinquente vivo. Lembro disso até hoje, ainda que não comente, é só estar numa sala de cinema para imaginar todo o processo. E já se passaram 12 anos. Como gritar por justiça? Vamos protestar o que? Quem? O único culpado tirou sua própria vida. Infelizmente, o que aconteceu em relação ao caso do cinema acontecerará com esse fato. Não esqueceremos jamais. É isso que entristece. A lembrança está aí e nada os trará de volta. Nem mesmo saber o motivo. Sei também que a mídia só está revirando porque ainda há crianças internadas e que, assim como o caso Lavínia, que revoltou e mexeu com todos nós, haverá um momento em que nos anestesiaremos e tudo parecerá falsamente no lugar. Infelizmente, nunca para as famílias, desfeitas.

Um comentário:

Glauce disse...

Triste demais , isso tudo acontecer tão perto, com crianças do nosso Realengo. Beijos Van.