domingo, 4 de julho de 2010

Vamos ter um filho!

Se essa frase for dita em um contexto de decisão, sob uma conversa prévia, e esta for o elo com a atitude partindo do projeto, perfeito. Todos felizes, alegres e saltitantes. Mas, quando dita em tom de checagem de informação que alguém acabara de receber, há de se ter parcimônia. Digamos que, neste enquadre, a informação seja consensual. A pessoa e/ou casal tem sua mente voltada para esse acontecimento. Agora, é partir para a prática. Está tudo bem quando o assunto está na esfera subjetiva, só há a imaginação, porém, quando o "é agora" se dá diante de um "estou grávida", por exemplo, todos os medos assolam qualquer mero mortal. Não é diferente quando a "esfera do dragão" pousa sobre o casal que decidira adotar.

Na questão da adoção, tirando todo o enquadre jurídico, acontece exatamente quando em questão biológica. As mulheres costumam dizer que já estão "gestando" seus pimpolhos desde o momento da decisão. Contudo, quando o casal começa a caminhar em prol dessa realização, suas mentes se enchem de dúvidas, inseguranças e medos, pois o "começo" está próximo. Esses sentimentos independem da idade da criança e até mesmo se o casal já tem filhos. Porém, os "marinheiros de primeira viagem" ganham destaque no quesito insegurança. O que pensar? O que fazer? E a febre? E a cólica? E o dentinho? Calma, calma... existem questões tão profundas quanto, mas que merecem destaque.

Um dos fatos indispensáveis é a questão da idealização. Imaginamos  nossos filhos a nossa imagem e semelhança. No entanto, esse novo membro da família não traz registro algum da árvore genealógica do casal. Isso é muito importante. Sabemos que toda criança é uma caixinha de surpresas, mas esse presente em questão, muito embora não seja grego, também não é troiano. Trata-se de um ser completamente diferente de você, em tudo. Não obstante, há a mais valiosa de todas as pérolas: a história fisiológica, mental e psicológica desta criança. Para entendermos isso, precisamos voltar um pouquinho.

Nenhum juiz tira uma criança de sua família natural  por qualquer motivo. A Destituição do Poder Familiar só acontece depois de muitas tentativas de realocação desta criança em sua família natural. Esse processo pode levar, em média, seis meses. Nesse ínterim, a criança pode estar sob cuidados de uma instituição, de uma família acolhedora. Somente depois desse impasse decidido, é que a criança encontra-se disponível para adoção. Agora, por que a decisão pela destituição do poder da família deste ser? É exatamente aí que está a raiz do conhecimento, da consciência dos adotantes. Para um juiz optar por essa saída, significa que esta criança não está, sob hipótese alguma, segura com sua família natural. Hora por orfandade, violência, abandono, drogas, tentativa de homicídio, e a imaginação pode nos levar aos confins. Logo, a inserção desta criança em uma família substituta necessita acontecer com todo o cuidado do mundo. Esta criança tem uma história, triste, muitas vezes pesada, negativa, de dor, ainda que seja um bebê pois, nas atuais conjunturas, muitas crianças órfãs, abandonadas, maltratadas, são filhos do crack, do tráfico de drogas, ou seja, da violência social. Portanto, mesmo sendo uma criança que apresente problemas tratáveis, provavelmente terá dificuldades em uma série de coisas em sua vida. Sendo assim, o que ela precisa é de uma família que a ame como ela é, sem idealizações pré construídas, e sim a parir dela, de sua existência no seio desta família. Dessa maneira, pode tornar-se mais fácil ajudá-la a se entender, a evoluir e ter sucesso, ser um cidadão saudável e proativo, longe do "vitimismo", da falta de esperança, do conformismo.

Todos os medos são normais, tenha certeza. Somente um não é bem vindo: o de cometer um erro na escolha por adotar. Saiba que esse amor é idêntico à biologia, é química, sem tirar nem pôr. Pode não ter nascido de vocês, mas foi feito para vocês, no sentido de serem perfeitamente capazes, toda a família, de estabelecerem um vínculo valioso e eterno, que, na grande maioria das vezes, é  muito maior do que os pré decididos consanguineamente.


Um comentário:

Hilton Pires disse...

Por preparado que o casal tem, a insegurança sempre vai aparecer mesmo, natural isso.

Se a mulher quiser assustar o namorado, fala isso de surpresa pro companheiro na hora H:

"Vamos fazer um filho!"

Vixii... capaz dele perde até a vontade... kkkkkkkkk.