sexta-feira, 14 de maio de 2010

Professor é alvo de duplo sentido direto na Praça é Nossa


O dia é treze de maio – Abolição da Escravatura. O ano, nós sabemos: 2010. E as piadas?

É... parece que a falta de respeito não terá fim e a achincalhação está só começando. Qual não foi o meu espanto, aos vinte últimos minutos do dia da supressão, eliminação, de uma das maiores covardias que a própria humanidade cometeu contra si mesma, quando me deparoei com um programa humorístico que, a fim de elevar sua pontuação no IPOBE, lança mão de um quadro onde um homem aparentando terceira idade, vestido num terno cafona, óculos gigantes, chega no palco acompanhado de duas belas moças, caracterizadas de meninas, falando energicamente e fazendo um gestual com as mãos, como se todo o tempo tivesse a intensão de possuir sexualmente as moças. Até então, normal dos programas com deficiência de criatividade. Porém, o que realmente passou dos limites foi as meninas se referirem a ele com a maior cerimônia de respeito, chamando-o de ‘Professor’, enquanto ele se refere a elas, junto ao personagem Carlos Alberto, como ‘delinquentes’, ‘burras’, além de deixar claro o tempo todo que a única função das duas seria somente para o ato sexual. Não obstante a isso, deixa claro em frases proferidas com um sotaque de ‘Coroner’, que, se as duas não estudarem, terão uma vida sem futuro, como empregadas domésticas, tudo isso tendo implícito a ideia de que, se não estudarem, e por serem mulheres, só lhes restarão a desqualificação e o trabalho com o corpo, atuando com sexo. Quantas situações temos inflingidas aqui? Estaria exagerando? Acredito que não. Sou professora, mulher. Minha profissão foi ofendida. A impressão de que o professor só se aproveita do aluno ficou clara. Aproveita, denigre, abusa sexualmente. Meu gênero foi ofendindo diretamente: a atitude do ato sexual é a única função da mulher. As moças representavam pré adolescentes = pedofilia. Será possível?

A profissão mais responsável do mundo é atirada na berlinda. Sem nenhum pudor, sem nenhum respeito. Os professores são achincalhados, desrespeitados, mal pagos e mal representados. Não basta na escola, onde vários cidadãos, no exercício de suas carreiras, são agredidos, molestados? E, antes que alguém salte de um lado só: ninguém aqui é criança ou está brincando. É óbvio que existe o lado negro da força em todo lugar. Na política, na medicina, na polícia, no magistério. Mas, atiçar à lama a imagem de uma das pessoas mais importantes no caráter da formação humana é incabível. Não está demais? São pais que não protegem seus filhos, e, além disso, os violenta, os descartam como lixos mortos; credos que rezam o contrário de seu mártir, pessoas tidas como ‘de fé’, que se aproveitam da falência humana para dissuadir; drogas que corroem e não deixam rastros. Teria os criadores do quadro a intensão de banalizar a coisa? Sim, porque, é natural do ser humano não abater-se mais, diante do comum. Logo, comum meu professor me chamar de ‘burro’, ‘delinquente’, enquanto demostra, com seus braços que, se eu não for esperto, ele abusará de mim sexualmente. Daqui a pouco será tiroteio no palco, corpos ao chão, reclamando das ‘balas perdidas’; senhora de cabeça loira e óculos de lentes grossas, investindo em uma menininha, que já estaria com seus olhos pintados de roxo, como prova da agressão! E o ‘piadeiro’ – não posso chamar uma pessoa assim de ‘humorista’, tão pouco ‘ator’ – dirá: “ é a nova sombra da marca X, que ela queria tanto comprar! Dei nela” – como um trocadilho de “ Dei para ela”.

Meus caros, isso é totalmente diferente do quadro do “Coroner”, um ricaço sem noção e sua esposa, que fica aos cuidados de um capataz tímido. A intensão é dizer que este homem é traído por sua mulher e empregado. Esse quadro se refere a todos os homens como ‘chifrudos’? a todas mulheres como ‘bigamas’, ‘infiéis’, ‘adulteras’? a todos os empregados como indígnos de confiança? Acredito que não. Não é uma profissão. Trata-se de um homem isolado, que até pode ter semelhança com outros. Porém, no caso da ofensa, o professor nem nome tem. Foi deixado solto, representando um legado, atacando outro, vitimando-o o tempo inteiro.

Aviso: se as cabeças pensantes desse país resolverem que não vale à pena enaltecer as coisas boas, os resultados negaivos, de um modo geral, tornar-se-ão maioria. Agora, responda com franqueza: onde está a graça?


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